UMBANDA UMA RELIGIÃO GENUINAMENTE BRASILEIRA
Introdução do Espiritismo no Brasil
A revolução francesa marca na história a liberdade para o homem. Surge nessa época o Kardecismo.
A era espírita é marcada oficialmente, pela publicação em 18 de abril de 1857, do Livro dos Espíritos. Este livro se apresentava como código de uma nova fase da evolução humana.
Allan kardec nascido a 3 outubro de 1804 na cidade de Lion, serviu como intermediário para primeiras manifestações do plano espiritual. Sobre o Livro dos Espíritos erguia-se um edifício: o da doutrina espírita. O espiritismo surgiu com ele e com ele se propagou.
O Brasil recebeu uma herança do período colonial, uma formação católica. A pressão exercida pela Igreja Católica Romana não permitia a livre manifestação dos seguidores de outras crenças religiosas ou de livres pensadores. Só nos últimos tempos a nossa sociedade permitiu certa liberdade de crença.
Na segunda metade do século passado encontramos os senhores do café tendo a sua disposição os vastos recursos proporcionados pela multiplicação das imensas fortunas obtidas para com a lavoura do café. Essas fortunas cresciam largamente no Vale do Paraíba (eixo São Paulo – Rio).
Surgiram então os novos ricos que regalavam com viagens em confortáveis vapores aos quais importantes centros culturais e recreativos da Europa, destacando-se Paris, que após a Revolução Francesa tornara-se o maior centro cultural do mundo. A Revolução Francesa permitiu a liberalização das ideias e liberou a França da pressão de igreja tradicional e reconheceu a liberdade de crença para todos ser humano.
Desta maneira, alguns médiuns puderam passar a procurar respostas para as suas dúvidas depois de tomar conhecimento das experiências vividas por Allan Kardec, com a possibilidade de comunicação com os espíritos dos mortos.
A nossa sociedade absorvia rapidamente todas as novidades vindas da França tais como moda, ciência, perfumaria etc. Uma dessas novidades eram os fenômenos espíritas.
Sendo assim, a princípio, o espiritismo foi praticado pela sociedade aristocrática, fato que não necessariamente ocorria na Europa.
O espiritismo no Brasil tornou-se rapidamente preconceituoso e pedante. Quem em vida não houvesse sido importante, não tinha o direito de se manifestar nas chamadas sessões espíritas (mesas brancas). Isso justifica-se, pois até bem pouco tempo, as famílias que defendiam as doutrinas de Allan Kardec, haviam se beneficiado do trabalho escravo e suas fortunas eram não raras vezes, conseguidas a custa desse sangue escravo, de um povo negro que eles haviam aprendido a renegar e desprezar. Por isso, numa mesa Kardecista, está um médium que incorporava um espírito que em vida havia sido um escravo, era de imediato convidado a se retirar da sessão, acusado de praticar baixa espiritismo.
Estávamos em 1908 e esse era o quadro geral do espiritismo de então no brasil.
Zélio Ferdinando de Morais
Quando no primeiro contato de Ronaldo Linares com Zélio de Morais este lhe narrou como tudo começou.
Em 1908 o jovem Zélio Ferdinando de Morais estava com 17 anos e havia concluir o curso equivalente ao segundo grau atual. Zélio preparava-se para ingressar na Escola Naval, quando fatos estranhos começaram a lhe acontecer.
Ora ele assumia estranha postura de um velho falando coisas aparentemente desconexas, como se fosse outra pessoa e que havia vivido em outra época, e em outras ocasiões, sua forma física lembrava felino lépido e desembaraçado que parecia conhecer todos os segredos da natureza, os animais e as plantas.
Este estado de coisas logo chamou atenção de seus familiares, principalmente porque ele estava se preparando para seguir carreira na Marinha, como aluno oficial. Esse estado de coisas foi se agravando e os chamados “ataques” repetiam-se cada vez com mais intensidade. A família recorreu então ao médico doutor Epaminondas de Morais, também da família, diretor do Hospício de Vargem Grande e tio de Zélio.
Após examiná-lo e observa-lo durante vários dias, encaminhou-o a família, dizendo que a loucura não se quadrava em nada do que ele havia conhecido, ponderando ainda, que melhor seria encaminha-lo a um padre, pois o garoto mais parecia estar endemoniado. Como acontecia com quase todas as famílias importantes da época também havia na família um padre católico. Através deste sacerdote, também tio de Zélio, foi realizado o exorcismo para livrá-lo daqueles incômodos ataques. Entretanto, nem esse, nem os dois outros exorcismos realizados posteriormente inclusive com a participação de outros sacerdotes católicos, conseguiram dar a família Morais o tão desejado sossego, pois as manifestações prosseguiram, apesar de tudo. A partir daí, a família passou a correr atrás de toda e qualquer melhora, ou melhor, informação, que lhe trouxesse a esperança de uma solução para seu querido filho.
Um dia alguém sugeriu que isso era coisa de espiritismo e que o melhor era encaminhado à recém-fundada Federação Kardecista de Niterói, município vizinho àquele que residia na família Morais, ou seja, São Gonçalo das Neves. A Federação era então presidida pelo senhor José de Souza, chefe de um departamento da marinha chamada Toque Toque.
O jovem Zélio foi conduzido a 15 de novembro de 1908, a presença do senhor José de Souza. Estava num daqueles chamados ataques, que nada mais eram do que incorporações involuntárias de diferentes espíritos; e lá chegando, o senhor José de Souza, médium vidente, interpelou o espírito manifestado no jovem Zélio e foi aproximadamente este o diálogo ocorrido:
Sr. José: Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?
O Espírito: Eu? Eu sou apenas um caboclo brasileiro.
Sr. José: Você se identifica como um caboclo, mas eu vejo em você restos de vestes clericais.
O Espírito: O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre, meu nome era Gabriel Malagrida e, acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da inquisição por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas, em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.
Sr. José: E qual é o seu nome?
O Espírito: Se é preciso que eu tenha um nome, digam que o sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, pois para mim não existirão caminhos fechados. Venho trazer a Umbanda uma religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o fim dos séculos.
No desenrolar dessa “entrevista”, entre muitas outras perguntas, o Sr. José de Souza, teria perguntado se já não bastariam às religiões já existentes e fez menção ao espiritismo então praticado e foram estas as palavras do Caboclo da Sete Encruzilhadas: “Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornam iguais na morte, mas vocês homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Porque não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas importantes na terra, também trazem importantes mensagens do além? Por que o não aos CABOCLOS E PRETOS VELHOS? Acaso não foram eles também filhos do mesmo Deus?”
A seguir, fez uma série de revelações sobre o que estava à espera da humanidade.
“Este mundo de iniquidades, mais uma vez será varrido pela dor, pela ambição do homem e pelo desrespeito às leis de Deus. As mulheres perderam a honra e a vergonha a vil moeda comprara caracteres e o próprio homem se tornará afeminado. Uma onda de sangue varrera a Europa e quando todos acharem que o pior já foi atingido, outra onda de sangue, muito pior do que a primeira, voltara a envolver a humanidade e um único engenho militar, será capaz de destruir, em segundos, milhares de pessoas. O homem será uma vítima de sua própria máquina de destruição”.
Prosseguindo diante do Sr. José de Souza disse ainda o Caboclo da Sete Encruzilhadas: “Amanhã, na casa onde o meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar independentemente daquilo que haja sido em vida, e todos serão ouvidos e nós aprendermos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai”.
Sr. José: E que nome darão a esta igreja?
O Caboclo: TENDA NOSSA SENHORA DA PIEDADE, pois da mesma forma que Maria ampara nos braços o filho querido, também serão amparados os que se socorrerem da UMBANDA.
A denominação de “Tenda” foi justificada assim pelo Caboclo: Igreja, Templo, Loja dão um aspecto de superioridade enquanto que Tenda lembra uma casa humilde.
Desta forma, em São Gonçalo das Neves, vizinho a Niterói, do outro lado da Baía de Guanabara, na sala de jantar da família Morais um grupo de curiosos Kardecistas compareceram no dia 15 de novembro de 1908 para ver como seriam essas incorporações, para eles indesejáveis ou injustificáveis. O diálogo do Caboclo das Sete Encruzilhadas, como passou a ser chamado, havia provocado muita especulação e alguns médiuns que haviam sido escorraçados de mesas Kardecistas, por haver incorporado caboclo, criança ou pretos velhos, se solidarizaram com aquele garoto que parecia não está compreendendo que lhe acontecia e que de repente se via como líder de um grupo religioso, obra essa que deveria durar a sua vida e que só terminaria com a sua morte, mas que suas filhas Zélia e Zulméia prosseguem com o mesmo afã.
Atenda de umbanda nossa senhora da piedade existe até o hoje. Seu patrono segue sendo Caboclo das Sete Encruzilhadas. Seu endereço é Rua Dom Gerardo, 51, Rio de Janeiro - próximo ao cais das barcas para Niterói.
A história se encarregou de mostrar e provar a exatidão das previsões do Caboclo das Sete Encruzilhadas. As duas primeiras guerras, as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagazaqui e a grande degeneração da moral, permite até mesmo que em certos países do mundo possam se unir em matrimônio seres do mesmo sexo. O poder do dinheiro e o total desrespeito à vida humana são provas incontestáveis do poder e da clarividência do Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Uma comprovação de existência do frei Gabriel Malagrida pode ser feita no livro de Henrique José de Souza, “Eubiose - A Verdadeira Iniciação” quarta edição (1978) Associação Editorial Aquarius; Rio de Janeiro.
Nas páginas 250 e 251, Henrique José de Souza faz o seguinte comentário: “Gabriel Malagrida, ancião de 80 anos foi queimado por Verdugos (Inquisição) em 1761”.
Existe na biblioteca de Amsterdam, uma cópia do seu FAMOSO PROCESSO, traduzido da edição de Lisboa. Malagrida, com efeito, foi acusado de feitiçaria e de manter pacto com Diabo, que lhe havia revelado o futuro.
A profecia comunicada pelo “inimigo do gênero humano” (Que dizer que das profecias comunicadas aos Santos da Igreja, inclusive Santa Odila, que profetizou até a última guerra) ao pobre Jesuíta Visionário, está concebida nos seguintes termos: O Réu confessou que o demônio, sob a forma da Virgem Maria, lhe tinha ordenado a escrever a vida do Anticristo; que havia existir, e bem dizer, três anticristos sucessivos, e que o último nasceria em Milão, da sacrílega união entre o frade e uma freira etc.
E por aí, outras tantas coisas que o brigaram a confessar.
A Tenda Nossa Senhora da Piedade é reconhecida hoje como a primeira Tenda de Umbanda e a data de 15 de novembro de 1908 é reconhecida como a data de fundação oficial da Umbanda.
Ronaldo Linares fez seu primeiro contato com Zélio de Morais em 1970.
De onde se origina a palavra “UMBANDA” é ainda uma dúvida, mas ela poderia ter vindo do sânscrito AUM-BANDHA, o que significa “o limite do ilimitado” ou o “princípio divino”.
-Ronaldo Linares-
Nenhum comentário:
Postar um comentário