Como Doutrinar um Obsessor
Em primeiro lugar é necessário que o médium seja bem desenvolvido. E o que entendem os meus irmãos por desenvolvimento? Pensam muitos que médium desenvolvido é aquele que recebe um caboclo, pulando ou sapateando, gesticulando, batendo com a cabeça no chão para saravá, quase a ponto de quebrá-la, cantando ponto com boa voz, bem entoado e ritmado, no entanto às vezes o médium é um bom artista e desempenha com perfeição um papel de Preto Velho, Caboclo ou sofredor, não estando bem desenvolvido, deixando seu espírito interferir nas comunicações, sendo assim um péssimo elemento numa corrente mediúnica e não podendo definitivamente ser um bom instrumento para um desencarnado que precisa de ganhar luz.
O desencarnado, seja ele um espírito vingativo ou sofredor, precisa de encontrar no médium estes predicados: educação mediúnica, humildade, boa vontade, sentimentos elevados, coragem, amor ao próximo, saber perdoar, respeito e obediência para com o nosso Criador, para que ele, espírito vingativo ou sofredor, receba os fluidos do médium e sinta necessidade de converter se na prática das boas virtudes. Este trabalho deve ser feito por um bom doutrinador, cujos sentimentos sejam de fato os de um verdadeiro espírita.
Eu vos afirmo que por mais endurecido que seja o obsessor, acaba convertendo-se e deixando as trevas em busca da luz, procurando arrepender-se de seus pecados e pedir o perdão de Deus. Não basta que o médium receba um guia para ser considerado desenvolvido; ele pode receber um guia ou mais, com o fim de ser doutrinado e desenvolvido. Eu entendo o desenvolvimento assim: evoluções espiritual do médium para poder unir seu fluido com o da entidade espiritual, pois esta deve ter luz para poder ser um guia, e o guia trabalha de acordo com o Espírito do médium, pois que semelhante atrai semelhante.
São assim também os espíritos atrasados: eles agem de acordo com o Espírito do médium ponte, se este é desordeiro, teimoso, convencido, malcriado, em vez do infeliz ser doutrinado acaba se tornando mais imperfeito ainda razão porque eu afirmo: é preciso conhecer a conduta do médium para poder confiar nele, saber se ele faz da mediunidade no sacerdócio, uma devoção ou uma profissão. Não me refiro a vida privada de nenhum médium; ele pode ser solteiro, casado, viúvo, desquitado e mesmo viver maritalmente; cada um tem o seu destino a cumprir no mundo. O que é preciso é saber se os seus sentimentos são bons. Em qualquer estado civil o homem tem de cumprir seu dever de ser cristão. Até uma meretriz pode possuir bons sentimentos, mais até do que muitas que são casadas e donzelas. O lírio dá no lodo e no entanto é puro na sua alvura; a vida dos bons médiuns é quase sempre uma via crucis dolorosa.
Posso afirmar com minha própria experiência de espírito que passou pelas trevas, que não tive resignação para sofrer, forças para perdoar e coragem para perder, o bem-estar e alívio que senti quando me foi permitido incorporar no médium cujo sentimento bom muito me auxiliou para receber a doutrinação, e pude então compreender o quanto estava errado, eu bem que senti ao ouvir uma prece em meu benefício, feita por um estranho que não conheci quando na Terra, assim como a médium.
Mesmo que com o meu esforço e trabalho eu chegue um dia aos pés do Divino Mestre, não necessitando mais de descer até um terreiro de Umbanda como um repórter espiritual para escrever as verdades sobre este Ramo do Espiritismo, eu jamais esquecerei aquele dia feliz em que baixei num terreiro incorporado no médium a libertar-me do sentimento de revolta e desespero que me acompanharam ao túmulo e além deste. Com esta ajuda consegui um pouquinho de luz, libertando-me das trevas. Depois, a medida em que fui ganhando luz a custa de muito trabalho e sacrifícios, cumprindo missão na falange dos caboclos, conduzindo cargas pesadas dos irmãos da Terra para as matas, eu pude então compreender, ao aproximar-me várias vezes do médium que um dia me emprestou seu corpo para que o compreendesse a minha situação de espírito rebelde e vingativo, e me auxiliou para sair das Trevas - o quanto ela sofria e quanto sofre, e sendo mulher é bem mais corajosa do que eu quando na Terra encarnado no corpo masculino. Que vida de martírios e sacrifícios tem sido a sua e no entanto, corajosa e resignada está sempre no seu posto como médium, procurando transformar os espinhos do seu caminho em flores cujo perfume conforta aqueles que dela se aproximam em busca de caridade, e quantas vezes com menos sofrimento que o seu!
Como intérprete dos guias de Umbanda, essa médium procura cumprir sua missão, sacrificando até altas horas da noite o seu sono para receber nossas mensagens, depois de um dia de pesados labores domésticos. Sacrifica todos os seus interesses de ordem material para cumprir seu dever mediúnico.
É assim meus irmãos que espíritos sofredores e revoltados se convertem ao caminho do bem, quando, por felicidade, encontram um bom médium que lhes empresta o corpo para receberem a necessária doutrinação, pois é preciso que voltemos ao plano terráqueo a fim de podermos compreender nossa situação de desencarnados, porque aqueles que desesperam diante do sofrimento e morrem revoltados, ficam no estado de confusão tremenda, sem saberem se são vivos ou mortos, isto é, segundo a matéria.
E como diz a mentora Madalena do Grupo Espírita Unidos pelo Amor de Jesus, na lei de Umbanda: depende do médium o êxito de todos os trabalhos, sejam bons médiuns meus irmãos, procurando compreender o que é a verdadeira Umbanda!
(Trecho extraído do Livro Umbanda para os Médiuns de Florisbela Maria de Souza)